Moda e Sustentabilidade

A moda tem sido a tendência de consumo, e a cada dia estamos consumindo mais e mais recursos naturais. Além disso, ocorre a geração de resíduos líquidos e sólidos que precisam ser tratados e destinados adequadamente para que não possam degradar o meio ambiente.

Então, muitas indústrias da moda tem desenvolvido produtos conhecido no mercado de moda sustentável. Na cidade do Natal, conhecemos a JUTŰ Ateliê, que vem desenvolvendo em sua atividade o conceito de CLOSET COMPARTILHADO. Você sabe o que é o CLOSET COMPARTILHADO? Leia a entrevista que realizados com Júlia, que é a desenvolvedora da Marca JUTŰ, e veja como é desenvolvida esta atividade e quais os benefícios que se pode fazer ao meio ambiente.

Júlia Lindbergh: “A indústria da moda é uma das que mais causa danos ao meio ambiente, desde a produção de seus produtos até seu descarte”

 

Porque o nome JUTŰ Ateliê (marca e ateliê de costura)?

Com a intenção de tornar sua marca mais pessoal, com propósito e história, eu não poderia deixar de associar o nome da marca às minhas raízes. A junção das minhas iniciais ”JU”, com “TŰ”, da palavra “agulha” em húngaro, minha descendência, expressa a paixão pela costura e o reflexo da minha história na marca.

Como você deu início ao ateliê?

Passei a comercializar peças quando ainda não fazia ideia que um dia fundaria a marca. Quando ainda trabalhava e cursava minha graduação, comecei a vender peças de crochê para amigas e criei uma rede de clientes através delas. Quando me formei em 2016, concretizei o ateliê. Além das peças de crochê, passei a confeccionar, reformar e ajustar peças de roupas para clientes. Acrescentando em 2017 o serviço de aluguel. Hoje o ateliê atende aos serviços de confecção e aluguel de vestidos de alta costura. Além disso, no final de 2018, demos início ao closet compartilhado no ateliê, isto é, é feito um contrato com clientes que passam a ser nossas parceiras, deixando vestidos de festas sob consignação, para que sejam alugados no ateliê.

Porque do aluguel de vestidos de festa?

Amante da moda, mas preocupada com o meio ambiente, sempre me identifiquei com a moda sustentável e consciente, incentivando sempre os clientes a reformarem antigas roupas, reaproveitarem, e quando na confecção de uma nova, optar por modelos versáteis, que permitiriam usar diversas vezes a peça.

Eis que, observando a necessidade local para roupas de festas para alugar, o ateliê iniciou o serviço de aluguel, contando grandes marcas e vestido de confecção própria. Neste serviço, acrescentou também a possibilidade da encomenda da confecção de um novo vestido JUTŰ, sob medida, para o uso dele como primeiro aluguel da peça, e posteriormente mantido no acervo JUTŰ para que demais clientes possam usá-lo.

A indústria da moda é uma das que mais causa danos ao meio ambiente, desde a produção de seus produtos até seu descarte. O impacto na sociedade, quanto à trabalhos escravos é brutal e repetitivo em noticiários.

O aluguel de roupas incentiva a diminuição do consumismo exacerbado e ameniza os danos sociais e ambientais, além dos financeiros – no tocante, os consumidores finais. Principalmente quando se trata de roupas de festas, que são peças de baixa utilização e alto custo, quanto maior a rotatividade da peça menor o impacto da indústria da moda.

Você trouxe à Natal o conceito de CLOSET COMPARTILHADO, já praticado em outros estados. Como funciona? Quais os ideais e suas expectativas?

Funciona da seguinte forma: os vestidos a serem deixados por consignação passam por uma triagem. A avaliação feita no ateliê vai definir quais vestidos se adequam ao Closet Jutü. Nós tratamos de tudo: da manutenção da peça, ajustes, lavanderia, logística, divulgação e de um espaço de exposição no nosso acervo, conforme o vestido é alugado, a consignatária recebe um percentual do valor de aluguel. É feito um contrato com a consignatária, que recebe todo mês o relatório de alugueis e o comprovante de transferência (caso ocorram alugueis).  O vestido deixado, também pode ser retirado para uso pessoal, caso não esteja alugado.

Alta costura para mim é a arte na área de vestuário. Algo que amo. Mas até então só fazia vestidos de festas para compra, e entregar a peça com uma dor: sabendo que a peça seria usada pouquíssimas vezes. O aluguel de peças de luxo para mim era a única alternativa possível para a área.  Quando resolvi focar nesse nicho de mercado no ano de 2019, vi que posso fazer o que amo, da forma que acredito.

Como já falado, na confecção de qualquer tipo de roupa, vários custos ambientais e sociais estão envolvidos. Estes impactos se intensificam quando se trata de vestidos de festas.

O vestido pode estar parado e limpo no armário, mas para mantê-lo em bom estado é necessário uma manutenção há cada 6 meses, se não a peça será deteriorada. Já ocorreram diversas vezes de levarem vestidos lindos, de qualidade e atuais para o ateliê, usados apenas uma vez, mas que não pudemos ficar porque a peça estava simplesmente acabada, devido ao tempo guardada (que não necessariamente foi muito).

A peça estando disponível para maior rotatividade, ameniza todos aqueles impactos.

Toda vez que alguém aluga um vestido, um a menos será produzido, colaborando por um mundo mais sustentável.

Ao dar início aos alugueis, já sabia que não seria um trabalho fácil, seria um trabalho de conscientização em uma população onde não era cultura alugar peças. Com o início dos alugueis da nossa marca, o contrato de consignação já estava esquematizado, porém, tínhamos que ver como seriam as saídas dos vestidos antes de manter vestidos de terceiros, o que exige imensa responsabilidade no nosso showroom.

Mas com o grande trabalho que fiz ao longo de 2018, logo tive a certeza que daria certo. E no final do ano passado, passei a receber os vestidos, com a certeza que teriam bom retorno, tanto para as consignatárias, o ateliê, meio ambiente e sociedade, apesar do grande trabalho e responsabilidade.

 

Agradecemos a Júlia Lindbergh.

 

Júlia Lindbergh (Contadora de formação, costureira por paixão e empresária de profissão, deu inicio ao JUTŰ Ateliê em Outubro de 2016).